Hoje vou falar da moto mais legal que tive, bom na verdade não fui eu que tive, a moto era do meu irmão, mais eu que usava a moto, já que meu irmão não tinha carta de moto e acabou pegando a CB, num rolo mais complicado que calça de polvo.
No dia do rolo eu fui junto, já que caberia à mim trazer a moto pra casa, mais acabei saindo na correria de casa e nem me liguei que estava calçando chinelos.
PAUSA PARA REFLEXÃO...
Embora eu tenha ido ao local justamente na condição de condutor da moto, eu não tinha muita habilidade com motos até aquele momento, eu tinha carta, mais as únicas motos que eu tinha pilotado até o momento eram de pequena cilindrada..sendo a YBR 125 da auto-escola a maior moto que eu tinha pilotado até o momento. Para efeito de comparação a CB-400 é 64 kg mais pesada, 100 mm mais alta e 30 cv mais potente que a YBR, portanto não era uma boa idéia conduzí-la de chinelos.
YBR: a moto na qual eu tirei carta.. pequena, leve e fraquinha, o exato contrário da CB
VOLTANDO AO ROLO...
Chegando ao local do rolo lá estava a moto, muito bonita com sua pintura azul e seus cromados, mais me assustei com o tamanho dela, nunca tinha reparado como a moto era grande, além disso o tamanho do motor também impressionava, parecia uma coisa potente demais para eu pilotar.
A negociata estava rolando, meu irmão oferecendo isso, o dono da moto pedindo aquilo...e como nenhum dos 2 tinha dinheiro começaram a por mercadorias no rolo...
Hora era oferecido um escapamento dimensionado..,hora um motor extra...e eu de fora pensando em como levaria aquele rinoceronte pra casa.. aí falei:
- Já sei, André ( meu irmão..) Dá o seu tênis!
o dono da moto retrucou:
-Não, tênis eu não quero!
-Não é pra você, é pra mim!
Peguei o tênis do meu irmão assim ficaria mais fácil de pilotar a moto, depois de algum tempo os 2 também chegaram num acordo e a moto era nossa, neste dia a moto estava assim:
A CB-400 possui motor de 2 cilindros, com 3 válvulas por cilindro e 44 cavalos de força, na época ( 1981) era um sonho de consumo, rápida e confortável era o máximo que se poderia ter no começo dos anos 80, já que as Honda "four" haviam saído de linha e não haviam muitas motos que fossem páreo pra 400 na época.
Montei na moto e acionei a partida elétrica, manobrando notei que os 2 carburadores da moto estavam desregulados, isso combinado com minha falta de experiência fez a moto morrer várias vezes. Meu irmão foi atrás, me seguindo com meu Opala.
Logo de cara a moto parece pesadíssima, tem 176 kg!.. porém assim que se pega o jeito a moto fica mais leve e sua ciclística permite que se incline bastante a moto nas curvas.
Duas coisas me surpreenderam no caminho de volta pra casa: o conforto e a força do motor!
Primeiramente o conforto, considero esta moto como o modelo ideal para pegar estrada com garupa, melhor até que uma Harley-Davidson, seu banco é largo e macio e a suspensão é confortável, bem ao gosto americano.
O motor é ótimo, vibra pouco e com os escapamentos originais é silencioso em baixa e ronca forte em alta, Assim que peguei o jeito comecei a acelerar e rapidamente deixei o Opala pra trás, o câmbio tem 6 marchas e a pegada em 2ª é violenta, a moto dispara e a marcha parece não acabar mais, uma esticada que deixa qualquer 250 atual pra trás facilmente.
Apesar do bom desempenho os carburadores estavam falhando muito e eu não podia tirar a mão do acelerador que o motor morria, então reduzi para que meu irmão me alcançasse.
PÉSSIMA IDÉIA..quando estávamos quase chegando em casa deixei a moto morrer em um cruzamento , meu irmão veio desgovernado e me atropelou com o Opala!..esse era apenas o início de uma longa trajetória de cagadas com a moto..
Menos mal que ocorreu tudo em baixa velocidade, sem ferimentos, meu irmão parou com a roda do Opala bem em cima do meu pé, mais como eu estava com o tênis nº 50 dele, o pneu se apoiou sobre o vazio que ficava na frente do tênis.
Chegando em casa mostrei a moto à minha mulher e dei uma volta com ela, que achou o banco do garupa bem mais confortável que o das motos que ela havia andado até o momento, meu filho também gostou da moto.
A moto com meu filho e minha esposa, atrás o Opala que quis passar por cima de tudo.
A 1º CAGADA..
Um dia resolvo sair pra dar uma volta com a moto, era um domingo, sem trânsito e a moto estava funcionando bem, de repente, do nada o motor morreu, tentei ligar na partida elétrica e nada, tentei ligar no pedal e ele estava "duro", travado, obviamente algo de ruim tinha acontecido ao motor.
O motor fundiu...até hoje não sabemos o motivo, mais meu palpite é que o culpado foi o radiador de óleo paralelo que havia na moto, pois na hora, sem querer, toquei nele e o mesmo estava frio, se o motor estava quente, o radiador também deveria estar, provavelmente entupiu e interrompeu o fluxo de óleo para o motor.
Tive que voltar pra casa empurrando a moto, nessa hora sofri com o peso dela, além disso o guidão do tipo "morceguinho" não dava nenhum apoio para empurrar , na metade do caminho desisti e chamei minha mulher para ajudar a empurrar, nós 2 juntos conseguimos empurrar a moto até em casa.
O CONSERTO
Não tínhamos dinheiro então decidimos que o conserto seria feito na garagem da minha casa, chamamos nosso amigo Lúcio que é mecânico e desmontamos a moto.
Na desmontagem do motor vimos que uma biela estava torta e o conserto desse motor sairia mais caro que o valor da moto, porém lembramos que o antigo dono da moto tinha motores extras guardados, então peguei o Opala e fui na casa dele.
Chegando lá fizemos mais um rolo e adquirimos um motor 400 usado, o mesmo era pesadíssimo e precisou de 2 caras para colocá-lo no porta-malas do Opala, tive que levar um deles comigo para ajudar a retirar o motor do porta-malas ao chegar em casa.
O motor estava com boa aparência, e bem limpo por fora, então resolvi guardá-lo dentro da minha casa, para evitar que ele pegasse chuva ou poeira.
Porém no meio da noite a maldição da CB começou a se manifestar, sem que ninguém o tocasse o motor que até o momento estava sequinho começou a vazar óleo, muito óleo por toda a casa ( este motor tem tanto óleo quanto um motor de carro ) e o óleo começou a invadir nossa cozinha!
Minha mulher viu aquilo e teve um acesso de fúria!..foi tomada por uma força sobre-humana carregou o motor sozinha e o atirou no quintal!!
Não sei como ela fez aquilo, o motor devia pesar uns 80 kg, mais do que eu pesava na época e ela o jogou longe, mais um motivo pra eu ficar na minha.
No final de semana seguinte nosso amigo Lúcio apareceu pra terminar de montar a moto, fomos pegar o motor do quintal que havia aberto uma cratera no chão..
tipo assim:
Aparentemente estava tudo bem com o motor, ele foi instalado e pegou na 1º tentativa, só estava fumando um pouco, além disso a partida elétrica não funcionava mais, pelo menos a CB possui também um pedal de partida, que exige uma boa "patada" pra ligar o motor..
A 2ª CAGADA
Durante todo esse tempo em que estávamos com a moto não havíamos nos preocupado com os documentos dela, afinal a moto ficou mais parada que andando, mais agora que havíamos consertado a moto resolvemos ir atrás das pendências da moto.
Foi aí que a zica ocorreu novamente: Havia uma ordem de busca e apreensão contra a moto!!
O ex-dono da moto, que nem era a pessoa que nos vendeu havia se envolvido em uma ação trabalhista e seus bens haviam sido penhorados pelo juiz, até tentamos reaver o prejuízo com o cara que nos vendeu a moto, mais descobrimos que ele não tinha absolutamente nenhum bem e nenhum dinheiro para nos dar, o mesmo estava devendo para familiares e estava até sendo ameaçado, não tinha dinheiro, carro, moto, emprego e nem casa, enfim era um "Zé Ninguém" e nem mesmo matar o sujeito resolveria.
Resolvemos jogar a toalha e usar a moto sem documentos até que aparecesse alguma solução, pelo menos a moto estava funcionando bem até o momento, comprei uma scooter, mais continuei usando a CB de vez em quando.
Meu filho na Scooter e eu na CB.
A 3ª CAGADA..
Era um dia de semana normal, meu filho estava na escola e minha mulher trabalhando, então resolvi sair para dar uma volta com a moto, ela estava boa, mais ainda sem documentos, porém conheço minha cidade e sei por onde da pra andar "tranquilo".
Estava descendo uma avenida onde ficam alguns mercadinhos, quando de repente saiu um carro de um desses mercadinhos e pulou na minha frente, me fechando..
Não havia como parar, tentei desviar, mais caí no chão..fui deslizando pelo asfalto quente e abrasivo e só parei quando entrei debaixo de um veículo que estava estacionado junto com a moto.
Logo de cara, vi que meu braço estava em uma posição "não natural", mais o que mais me incomodava era que a moto estava caída em cima de mim com o escapamento apoiado sobre o meu pé.
-Oi Carla pode buscar o moleque pra mim?
-Menino, Que aconteceu?
- To tendo um dia difícil...
-Estou sem carro, vou ter que ir com seu Opala...
-Não precisamos tomar medidas drásticas, eu vou dirigindo e você vai junto para me dar apoio..
Fomos até a escola e pegamos meu filho e o dela, no caminho de volta ela fala:
-Seu braço tá numa posição estranha, melhor ir ao médico..
-Vou esperar minha mulher chegar ela vai resolver, não gosto de hospital..
-Se você não for ao médico agora, seu braço vai ficar assim para sempre!
Aquele foi um argumento bom e decidi ir ao médico, não vou me estender muito, mais não foi uma experiência agradável.
Depois disso parei de usar a moto e pouco tempo depois meu irmão decidiu vendê-la.
A VENDA
Anunciamos a moto por metade do valor que meu irmão havia gasto nela, para vender logo, deixando bem claro no anúncio que a moto estava com pendências nos documentos. Um senhor oriental se interessou por ela, falou que iria desmontar a moto para fazer uma "CAFÉ RACER" e por isso não precisava dos documentos.
Uma CB-400 customizada ao estilo "café racer".
Claro que havia um "porém" no negócio, o acordo significava que .."alguém".. deveria levar a moto até Araçoiaba- SP, a cidade do comprador.
Comentamos que, se o comprador quisesse , levaríamos a moto andando até lá, mais que não nos responsabilizaríamos se a moto fosse parada no caminho em uma blitz.
O homem concordou em pagar adiantado e eu fui o escolhido para pilotar a moto na sua última viagem conosco.
Para isso eu deveria pegar um pequeno trecho da Rodovia Raposo Tavares, o que era novidade para mim, além disso estava chovendo no dia.
A DERRADEIRA VIAGEM COM A MOTO
Apesar da chuva eu estava curtindo, foi a primeira vez, que eu pegava estrada de moto e a CB parecia que estava em seu habitat natural, por ser pesada ela não se incomoda com os ventos laterais, permanecendo bastante estável na pista, além disso seu motor forte permite que se viaje em 6ª marcha a 120 km/h com baixo giro do motor.
A chuva engrossou e eu tive que diminuir o rítmo, evitava frear porque a CB tem os freios meio desequilibrados com 2 discos na frente e apenas 1 tambor atrás, não sei se essa era a configuração original, mais era a que estava na moto e como o chão estava molhado, usava apenas o câmbio para reduzir, cuidando para não travar a roda traseira.
Passando o pedágio encontrei o senhor oriental que estava comprando a moto que estava lá para me indicar o caminho, ele me perguntou como estavam as coisas e comentei que a chuva estava me atrapalhando já que eu não tinha muita experiência com motos.
2 discos na roda da frente, apenas tambor atrás..
O japonês falou que era um motociclista experiente e falou que poderia ir pilotando a moto que eu ia dirigindo o carro dele, topei na hora,minhas impressões sobre o carro dele estão aqui .
Comecei a seguir o japonês a uns 100km/h, quando de repente uma S10 saiu do acostamento e deu uma fechada nele, se fosse eu pilotando era acidente na certa, mais o experiente senhor conseguiu freiar e desviar da caminhonete, isso tudo com uma única mão pois a outra estava mostrando o dedo do meio para o motorista!
Dessa última eu escapei...
A 3ª CAGADA..
Era um dia de semana normal, meu filho estava na escola e minha mulher trabalhando, então resolvi sair para dar uma volta com a moto, ela estava boa, mais ainda sem documentos, porém conheço minha cidade e sei por onde da pra andar "tranquilo".
Estava descendo uma avenida onde ficam alguns mercadinhos, quando de repente saiu um carro de um desses mercadinhos e pulou na minha frente, me fechando..
Não havia como parar, tentei desviar, mais caí no chão..fui deslizando pelo asfalto quente e abrasivo e só parei quando entrei debaixo de um veículo que estava estacionado junto com a moto.
Logo de cara, vi que meu braço estava em uma posição "não natural", mais o que mais me incomodava era que a moto estava caída em cima de mim com o escapamento apoiado sobre o meu pé.
Conforme eu tentava me livrar da moto o calor do escapamento furou meu sapato, furou minha meia que estava por baixo e furou meu pé, até hoje tenho uma pequena mancha no pé no local onde o escapamento ficou apoiado.
As pessoas que passavam na rua seguraram o motorista causador do acidente e me ajudaram a sair debaixo do carro, que não foi danificado. Foi quando um desses transeuntes disse:
-Fique tranquilo e tente não se mexer, a polícia já está vindo!
Quando eu ouvi "polícia", imediatamente lembrei dos documentos atrasados, então levantei a moto do chão, o que já seria difícil com os 2 braços, mais a descarga de adrenalina me permitiu levantar com 1 braço só, montei na moto e vazei da li, deixando todo mundo assustado.
Consegui chegar em casa, os danos na moto eram mínimos: carcaça do farol quebrada, retrovisores quebrados e um pequeno amassado no tanque. Eu em compensação estava detonado: braço quebrado, roupa rasgada, joelhos esfolados e pé queimado
Para piorar já estava quase na hora de buscar o filho na escola, então me arrastei até a casa da vizinha para ver se ela podia buscar meu filho pra mim..-Oi Carla pode buscar o moleque pra mim?
-Menino, Que aconteceu?
- To tendo um dia difícil...
-Estou sem carro, vou ter que ir com seu Opala...
-Não precisamos tomar medidas drásticas, eu vou dirigindo e você vai junto para me dar apoio..
Fomos até a escola e pegamos meu filho e o dela, no caminho de volta ela fala:
-Seu braço tá numa posição estranha, melhor ir ao médico..
-Vou esperar minha mulher chegar ela vai resolver, não gosto de hospital..
-Se você não for ao médico agora, seu braço vai ficar assim para sempre!
Aquele foi um argumento bom e decidi ir ao médico, não vou me estender muito, mais não foi uma experiência agradável.
Depois disso parei de usar a moto e pouco tempo depois meu irmão decidiu vendê-la.
A VENDA
Anunciamos a moto por metade do valor que meu irmão havia gasto nela, para vender logo, deixando bem claro no anúncio que a moto estava com pendências nos documentos. Um senhor oriental se interessou por ela, falou que iria desmontar a moto para fazer uma "CAFÉ RACER" e por isso não precisava dos documentos.
Uma CB-400 customizada ao estilo "café racer".
Claro que havia um "porém" no negócio, o acordo significava que .."alguém".. deveria levar a moto até Araçoiaba- SP, a cidade do comprador.
Comentamos que, se o comprador quisesse , levaríamos a moto andando até lá, mais que não nos responsabilizaríamos se a moto fosse parada no caminho em uma blitz.
O homem concordou em pagar adiantado e eu fui o escolhido para pilotar a moto na sua última viagem conosco.
Para isso eu deveria pegar um pequeno trecho da Rodovia Raposo Tavares, o que era novidade para mim, além disso estava chovendo no dia.
A DERRADEIRA VIAGEM COM A MOTO
Apesar da chuva eu estava curtindo, foi a primeira vez, que eu pegava estrada de moto e a CB parecia que estava em seu habitat natural, por ser pesada ela não se incomoda com os ventos laterais, permanecendo bastante estável na pista, além disso seu motor forte permite que se viaje em 6ª marcha a 120 km/h com baixo giro do motor.
A chuva engrossou e eu tive que diminuir o rítmo, evitava frear porque a CB tem os freios meio desequilibrados com 2 discos na frente e apenas 1 tambor atrás, não sei se essa era a configuração original, mais era a que estava na moto e como o chão estava molhado, usava apenas o câmbio para reduzir, cuidando para não travar a roda traseira.
Passando o pedágio encontrei o senhor oriental que estava comprando a moto que estava lá para me indicar o caminho, ele me perguntou como estavam as coisas e comentei que a chuva estava me atrapalhando já que eu não tinha muita experiência com motos.
2 discos na roda da frente, apenas tambor atrás..
O japonês falou que era um motociclista experiente e falou que poderia ir pilotando a moto que eu ia dirigindo o carro dele, topei na hora,minhas impressões sobre o carro dele estão aqui .
Comecei a seguir o japonês a uns 100km/h, quando de repente uma S10 saiu do acostamento e deu uma fechada nele, se fosse eu pilotando era acidente na certa, mais o experiente senhor conseguiu freiar e desviar da caminhonete, isso tudo com uma única mão pois a outra estava mostrando o dedo do meio para o motorista!
Dessa última eu escapei...
Legal seu relato
ResponderExcluirDava pra escrever um livro, - A maldição da 400
ResponderExcluirMuito legal sua estória, parabéns
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