No post "Os carros e a política" , falei brevemente sobre o Fusca Itamar e sua relação com o ex-presidente, hoje vou mostrar alguns aspectos do desenvolvimento desse modelo tão peculiar, este carro é especial por ser a única vez em nosso país que um modelo fora de linha voltou a ser fabricado.
O ano era 1993, a Volkswagen encontrava-se unida com a Ford, formando a empresa conhecida como Autolatina,após um estranho acordo com o então Presidente Itamar Franco, a VW decide retomar a produção do Fusca,interrompida desde 1986!...decisão que nem a matriz compreendeu, a VW alemã considerou o Fusca Itamar uma "série especial" e não um modelo normal, tanto que no museu da VW na Alemanha existe uma galeria com o último Fusca de cada país e o "último Fusca do Brasil", é um modelo 86.
"Último" Fusca, no museu da VW alemã
Mas haviam obstáculos a serem superados pra retomar a produção do Fusca, alguns deles eram:
O FERRAMENTAL NÃO EXISTIA MAIS!
Antes de retomar a fabricação do Fusca era necessário fazer alguns protótipos para teste, mas o ferramental usado para fabricar o carro não existia mais, havia sido vendido para fábricas de peças de reposição, então a VW saiu a caça de exemplares bem conservados do Fusca 86 que estavam na mão de colecionadores para serem usados como "mulas" de testes.
Fusca 1986 sendo usado em teste, fonte: Livro Eu Amo Fusca, Alexander Gromow RIPRESS 2003.
Muitos Fuscas que estavam guardados para posteridade acabaram destruídos em testes como este:
Fusca 1986 sendo usado em teste, fonte: Livro Eu Amo Fusca, Alexander Gromow RIPRESS 2003.
Muitos Fuscas que estavam guardados para posteridade acabaram destruídos em testes como este:
Nestes testes verificou-se que o Fusca precisava de mais segurança. O Fusca BR 1986 equivalia ao Fusca alemão de 1964, ou seja não recebeu as melhorias de suspensão que o Fusca recebeu na maior parte do mundo nos anos 70.
Fusca alemão de 1971: suspensões totalmente diferentes, repare nas torres em azul na dianteira, além disso a àrea envidraçada é maior e o quebra-vento inclinado. Na frente o estepe vai deitado, proporcionando maior espaço no porta-malas.
Fusca alemão de 1971: suspensões totalmente diferentes, repare nas torres em azul na dianteira, além disso a àrea envidraçada é maior e o quebra-vento inclinado. Na frente o estepe vai deitado, proporcionando maior espaço no porta-malas.
Fazer todas as melhorias no Fusca Itamar e deixá-lo equivalente ao modelo alemão, aquelas alturas elevaria muito o preço final do carro, inviabilizando sua venda, por isso a Autolatina optou por manter a suspensão, apenas instalando uma barra compensadora na traseira e trocando os pneus por modelos radiais, porém aí havia outro problema:
A medida ideal de pneu radial para o Fusca seria a 155/ 15, mas essa medida não existia mais, havia sumido do mercado junto com o Fusca em 1986, a VW então optou pelo 165/ 15 medida que não era a ideal, mas era o que tinha.
Como curiosidade, mesmo o último Fusca mexicano, que saiu de linha em 2003 encerrando a trajetória do carrinho no mundo usava pneus inadequados, indicando que os 155/15 sumiram do mapa mesmo.
Último Fusca mexicano: não tinha as melhorias de suspensão do Alemão, mas já incorporava a àrea envidraçada maior.
Como curiosidade, mesmo o último Fusca mexicano, que saiu de linha em 2003 encerrando a trajetória do carrinho no mundo usava pneus inadequados, indicando que os 155/15 sumiram do mapa mesmo.
Último Fusca mexicano: não tinha as melhorias de suspensão do Alemão, mas já incorporava a àrea envidraçada maior.
PROTESTO DE FUNCIONÁRIOS
O Fusca pode parecer um carro simples, mas fabricar um dá muito mais trabalho que fabricar um carro moderno. Por exemplo sua carroceria precisa ser aparafusada ao chassi , entre outras coisas que eram comuns na manufatura dos anos 50, mas que não se adequavam aos modernos processos de produção. Alguns funcionários ameaçaram fazer greve se a linha de montagem do Fusca fosse reativada da mesma forma que era no fim dos anos 80, diante destes fatos, foram incorporados novos equipamentos que visavam tornar a produção do Fusca menos trabalhosa.
Um destes equipamentos era o "grill" , que virava o Fusca como se fosse um porco no espeto, este dispositivo visava tornar a tarefa de unir a carroceria ao chassi mais ergonômica, fonte: Livro Eu Amo Fusca, Alexander Gromow, RIPRESS 2003.
Com novo maquinário e protótipos prontos para teste, ainda havia um problema, não haviam pessoas capacitadas para liderar a retomada da produção do carro, por isso foram chamados funcionários aposentados, que trabalharam na produção do Fusca antes de seu término, essa equipe foi chamada de "dream team":
CONTROLE DE EMISSÕES
Quando o Fusca deixou de ser fabricado em 1986, praticamente não havia nenhum tipo de controle de emissões, porém nos anos 90 a coisa era diferente, todos os carros deveriam sair de fábrica equipados com catalisador, expliquei sobre ele neste post.
Para equipar o Fusca com catalisador foi necessário redesenhar completamente seu sistema de escape, por isso o Fusca Itamar tem escapamento de saída única, no para-lama traseiro esquerdo.
Sistema novo, com catalisador
Sistema novo, com catalisador
ECONOMIA DE ESCALA
Mesmo com tímidas mudanças mecânicas, foi preciso um esforço extra para que o Fusca custasse barato, a solução foi se valer da economia de escala, aproveitando peças de outros modelos, os bancos e o volante por exemplo vieram do Gol e todas as peças cromadas foram substituídas por similares pintados em preto ou na cor da carroceria. Além disso um acordo com o governo enquadrou o Fusca como um carro popular, sujeito a menos imposto, mesmo sem ser 1.0.
Apesar destes esforços o Fusca 1993 saiu custando cerca de 7 mil reais, ainda muito caro comparado com seus concorrentes Uno, Corsa e Gol, que eram muito mais modernos e custavam a mesma coisa
O Fusca Itamar 1993: parachoques pintados no lugar dos cromados e ausência do retrovisor direito, tudo para custar pouco, apesar disso ainda era caro pelo que oferecia.
DESEMPENHO
O carro saiu em 1993 inicialmente com motor 1600 a álcool de 2 carburadores gerando 65 cavalos de força, com esse conjunto o Fusca podia alcançar 140 km/h o que é muito bom para um Fusca, não fossem os pneus errados que deixavam o carro muito alto prejudicando a aerodinâmica certamente o Itamar seria o Fusca de fábrica mais veloz do mundo.
O Fusca brasileiro é o único do mundo equipado com 2 carburadores de fábrica.
VENDAS
Apesar de ser o melhor Fusca já vendido no país o Itamar não vendeu como esperado, o problema eram os concorrentes, ninguém deixaria de adquirir um Uno, um Escort ou um Corsa para ficar um Fusca e se a pessoa fizesse questão de um VW existia o Gol 1000, que oferecia muito mais espaço e economia e custava a mesma coisa que o Fusca.
Concorrentes do Fusca na época : Gol 1000, Escort Hobby , Uno Mille e Corsa Wind, todos mais modernos e eficientes, pelo mesmo preço, na verdade o Uno era um pouco mais barato, fazia 16 km com um litro de gasolina e atingia quase 150 km/h, realmente não dava para o fusquinha.
O tempo do fusquinha realmente havia passado, sem condições de concorrer com os carros modernos, sua produção foi encerrada em 1996.
Ultimo Fusca made in Brasil: o Série Ouro 1996
CONCLUSÃO
Se o Fusca Itamar não foi o sucesso que a VW esperava, ao menos nos deixou com uma bela peça de coleção, dirigir o carro é uma delícia como já falei aqui . Você não espera muito dele por ter apenas 65 cavalos, mas a sensação ao dirigir é que ele tem muito mais, a força em baixa rotação, o toque preciso do câmbio e o elevado índice de NVH ( noise, vibration and harshness , ou ruído , vibração e ríspidez ) tornam a experiência ao volante muito mais sensorial e pura, justamente o que falta nos carros de hoje.
DESEMPENHO
O carro saiu em 1993 inicialmente com motor 1600 a álcool de 2 carburadores gerando 65 cavalos de força, com esse conjunto o Fusca podia alcançar 140 km/h o que é muito bom para um Fusca, não fossem os pneus errados que deixavam o carro muito alto prejudicando a aerodinâmica certamente o Itamar seria o Fusca de fábrica mais veloz do mundo.
O Fusca brasileiro é o único do mundo equipado com 2 carburadores de fábrica.
VENDAS
Apesar de ser o melhor Fusca já vendido no país o Itamar não vendeu como esperado, o problema eram os concorrentes, ninguém deixaria de adquirir um Uno, um Escort ou um Corsa para ficar um Fusca e se a pessoa fizesse questão de um VW existia o Gol 1000, que oferecia muito mais espaço e economia e custava a mesma coisa que o Fusca.
Concorrentes do Fusca na época : Gol 1000, Escort Hobby , Uno Mille e Corsa Wind, todos mais modernos e eficientes, pelo mesmo preço, na verdade o Uno era um pouco mais barato, fazia 16 km com um litro de gasolina e atingia quase 150 km/h, realmente não dava para o fusquinha.
O tempo do fusquinha realmente havia passado, sem condições de concorrer com os carros modernos, sua produção foi encerrada em 1996.
Ultimo Fusca made in Brasil: o Série Ouro 1996
CONCLUSÃO
Se o Fusca Itamar não foi o sucesso que a VW esperava, ao menos nos deixou com uma bela peça de coleção, dirigir o carro é uma delícia como já falei aqui . Você não espera muito dele por ter apenas 65 cavalos, mas a sensação ao dirigir é que ele tem muito mais, a força em baixa rotação, o toque preciso do câmbio e o elevado índice de NVH ( noise, vibration and harshness , ou ruído , vibração e ríspidez ) tornam a experiência ao volante muito mais sensorial e pura, justamente o que falta nos carros de hoje.
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