segunda-feira, 10 de outubro de 2016

FIAT TEMPRA

Na minha infância o sonho de consumo era o Fiat Tempra, não que eu fosse um grande fã do modelo, mas para mim  ele era sinônimo de carro chique, de gente que venceu na vida. Por isso me choca ver o quanto o modelo é desvalorizado hoje em dia.

Lembro quando estava no primário, os pais dos meus amigos tinham geralmente Fuscas, Chevettes, Gols quadrados e Unos . Meu pai até tinha um carrinho um pouco melhor, era um Fiat Prêmio, Cinza Argento como este:
Era igual a este, nesta mesma cor, porém com 2 portas a menos.

Digo que o Prêmio era um pouco melhor porque seu estilo era moderno para a época ( o Uno o manteve até 2014 ) e sua cor sóbria dava um certo ar de elegância, mas na verdade era um carro simples até o talo, não tinha nenhum luxo, sequer tinha o retrovisor do lado direito.

Aí um dia apareceu um amigo meu dizendo que o pai havia comprado um Tempra!! ele estava eufórico e com razão, o Tempra era a sensação naquela época, até haviam carros melhores como o Opala Diplomata e o VW Santana, mas o Tempra era muito mais moderno que eles.

Um detalhe que me chamou atenção foi que o velocímetro marcava até 240 km/h, quando criança eu achava que a última marcação do velocímetro correspondia a velocidade máxima do veículo e por isso fiquei impressionado,  o Prêmio do meu pai marcava só até 180 km/h.

Conforme meu amigo nos contava sobre os detalhes do Tempra,  outro menino falou que aquilo não era nada porque seu pai tinha 3 carros: um Fusca, uma Pampa e um Uno, na hora meu amigo respondeu: -Pede pra ele vender os 3 que dá pra comprar um Tempra! ..na época era isso mesmo, hoje em dia qualquer um destes carros tem valor de mercado superior ao do Tempra.


BREVE HISTÓRIA DO FIAT TEMPRA

O Tempra foi lançado no Brasil em 1991 para ser o top de linha da Fiat, este carro já existia na Europa desde 1988 porém lá ele não era o top de linha, esse papel cabia ao Fiat Chroma.
Fiat Chroma: maior que o Tempra

O Tempra europeu era um carro mais simples, normalmente tinha motores 1.4 e 1.6, como curiosidade tanto o Chroma como o Tempra europeu tinham limpadores no vidro traseiro, apesar de serem sedãs, aqui no Brasil nenhum sedã tem ou teve esse equipamento.
Tempra Europeu: retrovisores e grade diferentes do nacional

Ao nacionalizar o Tempra a Fiat manteve a aparência do modelo europeu, mas fez mudanças  em sua estrutura, o monobloco foi completamente alterado, embora seja esteticamente o mesmo carro praticamente nenhum componente mecânico do Tempra europeu serve no Tempra BR.

A suspensão dianteira não emprega mais o subchassi, utilizado no modelo europeu e a traseira passou a utilizar torres de suspensão do tipo Mcpherson, o que fez com que o Tempra BR perdesse a opção do banco traseiro rebatível que existia no modelo europeu.
Tempra Brasileiro

Como seria o modelo top da linha Fiat no Brasil, o Tempra não poderia utilizar motores pequenos como o original europeu, por isso foi escolhido um motor 2.0 projetado projetado pelo engenheiro Aurelio Lampredi, o mesmo que fez o motor do Fiat 147.

Esse fato é similar ao que aconteceu com a GM, quando trouxe o Opel Rekord da Europa para ser o Opala no Brasil teve que substituir os motores minúsculos que ele usava, de 1.6 e 1.9 litros por motores americanos de 2.5 e 4.1 litros.
Opel Rekord : Cara de Opala, mas com motorzinho.

Ao que parece os europeus gostam de carros grandes com motores pequenos, lá por exemplo existe até Fusion com motor 1.0!
Ford Fusion 1.0 Ecoboost


Mais voltando ao Tempra...

 A Fiat optou por equipar os primeiros Tempras com carburador, foi uma péssima decisão já que seus concorrentes tinham injeção eletrônica.

Além disso, nessa época começava a ser obrigatório o uso do Catalisador.

O catalisador é um equipamento que "filtra" os gases do escapamento por meio de reações químicas, para diminuir a poluição causada pelo veículo.
Porém este equipamento não se dá tão bem com o Carburador, que não mistura o combustível ao ar tão bem quanto a injeção, desequilibrando as reações químicas no catalisador.

Logo, toda vez que um Tempra passava, deixava um cheiro de:
isso não é bom para imagem de um carro...

Apesar destes peidos iniciais o Tempra foi se acertando e se tornou um sucesso, foi o único carro grande da Fiat a vender bem até hoje. Seus sucessores Marea e Linea nunca conseguiram repetir este feito.

Foi o 1º carro brasileiro com motor 16 válvulas, essa versão, lançada em 1993 tinha 127 cv (28 a mais que o 8v) e fazia o Tempra chegar a 200 km/h!
Motor 16v

Um ano depois, a Fiat lançou a versão Turbo, mais forte ainda com 165 cv , que se tornou o carro mais rápido do Brasil ao atingir 220 km/h !

Além do bom desempenho, outro segredo do sucesso do Tempra é que ele sempre foi bem equipado, com itens que não estiveram presentes nem mesmo em seus sucessores.

Alguns destes itens são:

Banco elétrico
O Tempra tinha opção de regulagem elétrica dos bancos, seus sucessores Marea e Linea nunca tiveram este item.

Check-control
Pioneirismo da Fiat no Brasil, indica anomalias no carro como portas abertas e lanternas queimadas.

Computador de bordo
Fornece dados sobre autonomia, consumo médio, velocidade média, etc.

Notaram que as 3 fotos acima são de peças que estão fora do carro? Isso acontece porque a maioria dos Tempras hoje em dia foi parar em ferros velhos, não por culpa do carro, mas porque os brasileiros não estavam preparados para um carro tão avançado que exige manutenção mais dedicada.


DIRIGINDO O TEMPRA

Quando estava tentando vender meu 147 apareceram alguns donos de Tempras interessados em fazer "rolo" no meu carro. Fiquei animado com a possibilidade de pegar um carro maior e mais luxuoso e cheguei a fazer "test-drive" em um deles:

TEMPRA SX 2.0 8V 1996
Quando vi este Tempra gostei do carro, parecia bem conservado, o dono estava pedindo 6 mil por ele, que era mais ou menos o valor que eu queria no 147.

O exemplar era o modelo mais simples do Tempra 96, equipado com motor 2.0 8v e injeção monobico que gerava 105 cavalos de força.

Ao abrir a porta vi belos bancos em veludo azul, gosto dos bancos dos Fiats dos anos 90, esse padrão azul era usado também no Palio, quando está conservado é bem legal, parecem os bancos dos ônibus da Viação Cometa, que fazem a linha Sorocaba-São Paulo.
Bancos do ônibus da Cometa, o Tempra e o Palio dos anos 90 utilizam um veludo azul parecido com este, posteriormente foram substituídos por bancos cinzas, mais discretos e ao gosto do mercado.

O carro era confortável, apesar do ar condicionado não estar funcionando, todo o resto parecia sólido, porém este Tempra parecia bem mais "pobre" que o modelo Ouro que eu conheci na  infância, pra começar com o painel de instrumentos, parece um detalhe besta,mas tem muita importância pra mim:
Como vocês podem ver o velocímetro marca até 220 km/h e no lugar do contagiros existe um FUCKIN relógio!, eu até entendo a importância de um relógio, mas ocupar um lugar de destaque no painel no lugar do contagiros é pra quem corre contra o tempo mesmo.

Pena que neste caso o motor 2.0 não ajude, ele até tem uma boa potência, mas o carro é muito pesado (1250 kg) e é necessário reduzir a marcha em qualquer aclive, a injeção de apenas 1 bico também não ajuda muito.

O câmbio é macio e leve e a direção é bem direta tornando o carro agradável de manobrar, a suspensão é boa, mas já estava fazendo barulho indicando que o veículo ia precisar de manutenção nesta área, nada grave.

No geral gostei do carro, me pareceu lento, mas isso é exclusivo desta versão já que os Tempras 16v e Turbo são muito rápidos.

Acabei não pegando o carro, na época minha vida não comportava um Tempra, o custo de manutenção e o gasto com combustível eram muito mais caros que os do 147.

Hoje em dia acho que até teria um, é muito difícil achar um exemplar bem conservado,mas mesmo os melhores Tempras ainda são muito baratos.

Só que teria que ser o modelo que marca 240!

Nenhum comentário:

Postar um comentário